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segunda-feira, 4 de junho de 2012


         O que estamos fazendo com nossas crianças?


Por Daniela L. X. Rezende*
“Agora, vou falar dos seus direitos: o seu direito de sentar, seu direito de quicar, direito de rebolar… fica caladinha, fica, fica caladinha.”
“Hoje eu vou pro baile de sainha (daquele jeito)… hoje eu to solteira e ninguém vai me segurar… se elas brincam com a xaninha eu faço o homem enlouquecer.”
“Ela sai de saia e bicicletinha, uma mão vai no guidão a outra tapando a calcinha.”
Você deve estar no mínimo achando estranhas estas frases em um artigo, talvez você não as conheça (o que é difícil), mas se você é do tipo “baladeiro” com certeza sabe que estou me referindo a um poema musicado, um estilo musical. Pra você que não sabe do que estou falando, vou explicar. Trata-se da febre que invadiu as ondas de rádio e tv, baladas e festas, as casas e a vida das pessoas, para alguns tornou-se quase um estilo de vida.
O Funk surgiu na década de 60 através da música negra, com um ritmo mais lento e sexy, de lá para cá foi passando por adaptações até chegar ao que é hoje no Brasil que segue o estilo do Funk Carioca. Um ritmo mais acelerado e dançante, com conotação erótica, caracterizado por músicas de letras sensuais e de duplo sentidos, por vezes vulgares, expondo uma sexualidade exacerbada.
Mas, o que um estilo musical tem a ver com educação de filhos, crianças e jovens? Outro dia participei de uma festa para crianças de 9 a17 anos e confesso que fiquei incomodada com o que vi. Crianças de 9,10 e 11 anos cantavam as músicas funk em alto e bom som com uma naturalidade nada natural para a idade.
Mais que cantar, elas dançavam com “a bundinha até o chão”, gestos obscenos demais para um corpo tão pequeno e frágil, o que me levou a propor aqui uma reflexão. O que estamos fazendo com nossas crianças?
Com que idade o sexo deve ser apresentado a elas? Porém, a pergunta mais relevante é: Como o sexo deve apresentado a elas?
Vivemos em um país em que a cultura sexual é mais acentuada que em muitos países. A sensualidade é saudável e faz parte do ser humano, um casal se atrai também pela sensualidade e há um jogo de conquista, uma dança entre os pares até chegar ao ato em si.
Isto não é problema, o problema é que há um tempo, uma época certa para que isto aconteça, onde é preciso que haja maturidade e autocontrole para administrar seus sentimentos e desejos.
Novamente, o que a música tem a ver com tudo isto? Preste atenção nas letras, nos movimentos, nas expressões. Algumas delas são praticamente uma preparação e reprodução dos movimentos do ato sexual, outras trazem inclusive gemidos em seu refrão.
Você pode estar pensando agora que as crianças não sabem o que estão cantando e por isto as músicas seriam inofensivas, porém Schoenberg dizia que “A música é uma sucessão e combinação de tons, organizados de tal forma que deixam uma impressão agradável no ouvido, e a sua impressão na inteligência é compreensível. Estas impressões têm o poder de influenciar partes ocultas da nossa alma e das nossas feras sentimentais”.
A música é algo tão forte para nós que tem o poder de provocar emoções e gerar sentimentos, podendo ser utilizada inclusive como uma estratégia de aprendizagem.
Para FARIA (2001, p. 4), “A música passa uma mensagem e revela a forma de vida mais nobre, a qual, a humanidade almeja, ela demonstra emoção, não ocorrendo apenas no inconsciente, mas toma conta das pessoas, envolvendo-as trazendo lucidez à consciência”.
Ou seja, a música pode sim influenciar o comportamento das pessoas, quando se quer causar comoção, compaixão ou identificação basta uma música de fundo. Uma cena de amor, medo ou superação não teria o mesmo impacto no telespectador sem uma trilha sonora. Do mesmo modo nossas crianças estão cantando e dançando uma sensualidade sem limites que com certeza irá refletir em suas vidas dentro de pouco tempo. Uma pesquisa norte americana revelou que jovens que ouvem músicas que contenham referências sexuais e degradantes, começam a fazer sexo mais cedo (ou investem nas preliminares, como masturbação), o número de adolescentes grávidas também é maior neste quadro. O autor do artigo, Brian Primack, da Universidade de Pittsburgh declara: “O estudo mostra que, entre essa amostragem de adolescentes, muita exposição a letras de músicas com conteúdo sexual é associada a altos níveis de comportamento sexual. Isso prova que essa área precisa de intervenção, para a saúde dos jovens”.
Esta pesquisa ainda não foi realizada no Brasil, mas creio que reflete também a nossa realidade. Nossa tarefa deveria ser de proteger nossas crianças, educa-las no sentido de levá-las a uma sexualidade saudável onde meninos respeitam e honram qualquer garota. Uma menina não precisa se comportar de maneira a oferecer seu corpo e sua sensualidade como algo banal, sem valor, em que ela seja vista como “cachorra, tchutchuca, potranca” ou adjetivadas por nomes de frutas como vemos por aí.
Como adultos estamos perdendo a noção do que é benéfico ou não para nossas crianças, “Olha como ela dança bonitinho” “Meu filho é pegador” são frases que ouço como se fosse natural e louvável. Desculpem-me a sinceridade se alguém se sentir ofendido, mas para mim isto não passa de uma desnudação de valores. Ao permitir que nossas crianças sejam expostas a todo e qualquer tipo de música, programas, filmes, desenhos e livros sem censura, tiramos delas o direito de conhecer o sexo maneira e pura e natural, sabendo o objetivo pelo qual foi criado, procriação e prazer saudável.
Como pais e educadores devemos sim ensiná-los a selecionar tudo que veem e ouvem e quando tiverem maturidade suficiente poderão escolher o estilo de música, roupa ou estilo de vida querem para si e sua família, até lá cabe a nós protege-los e direcioná-los da maneira mais saudável possível.
O que estamos fazendo com nossas crianças?
*Daniela é autora dos livros Coisas de Meninos e Coisas de Meninas da Editora UDF. 

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